Quando se abre uma lista de doenças de A a Z e se começa a ler o que por lá vai, não raro, parece que temos todas aquelas doenças e que nem todas as que temos lá constam, sobretudo quando há distúrbios de ansiedade. Se, a par, deitarmos mão de um qualquer manual de terapias para descobrir as que poderão curar tais males, e se lermos bem a literatura que acompanha cada medicamento, logo avaliamos que é preciso ter uma saúde de ferro para aguentar o tratamento e os seus efeitos colaterais.

Se essas doenças, porém, fazem suar as estopinhas de quem as sofre, existe uma outra lista de doenças que Francisco diagnosticou e cuja cura também reclama posologia bem doseada e persistentes cuidados. Pessoas poderá haver, contudo, que não as reconhece em si nem admite que as possa ter. Não raro até, é-se mais diligente em insinuá-las nos outros mesmo quando os outros as não têm.

Estamos prevenidos e bem prevenidos: pior cego é aquele que não quer ver! Muito pior ainda quando se arregala os olhos para ver o cisco no olho do outro e não a trave que está no nosso. Quem nos preveniu, até trouxe à baila os sepulcros caiados na sua arte de bem parecer: ‘muito formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundice’. E até nos recordou a malandragem dos hipócritas ‘que limpam o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade’. De facto, como afirma São Marcos, é ‘do coração da pessoa que saem as más intenções, como a imoralidade, roubos, crimes, adultérios, ambições sem limites, maldades, malícia, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo’.

Nos laboratórios das suas reputadas experiências, onde tem queimado as pestanas e gasto a sua vida em dedicado serviço à causa, Francisco, em tempos, recordou algumas das conclusões a que chegou, tendo-as, para bem de todos, reiterado vezes sem fim, pois, como afirmava Napoleão de Bonaparte, a repetição é a melhor figura de retórica. Torno presente apenas a lista de doenças por ele diagnosticadas. Quem desejar conhecer alguns dos sintomas pelos quais essas doenças se manifestam é bom ler o texto original. Eu apenas refiro as doenças, não para alarmar, mas para dizer a todos e a mim próprio que os fármacos são gratuitos, estão disponíveis e bem perto, e que as impaciências doentias, o deixa correr, os caldos de galinha e as mezinhas dos boticários de esquina, isso não resulta, está provado e reprovado. Eis o rol:

‘A doença de sentir-se ‘imortal’, ‘imune’ ou mesmo ‘indispensável’; ‘A doença da atividade excessiva’. ‘A doença do ‘empedernimento’ mental e espiritual’. ‘A doença da planificação excessiva e do funcionalismo’. ‘A doença da má coordenação’. ‘A doença do ‘alzheimer espiritual’. ‘A doença da rivalidade e da vanglória’. ‘A doença da esquizofrenia existencial’. ‘A doença das bisbilhotices, das murmurações e das críticas’. ‘A doença de divinizar os líderes’. ‘A doença da indiferença para com os outros’. ‘A doença da cara fúnebre’. ‘A doença do acumular’. ‘A doença dos círculos fechados’. ‘A doença do lucro mundano, dos exibicionismos’.

O Papa termina, deixando claro que o “único que pode curar qualquer uma destas doenças é o Espírito Santo (…). É o Espírito Santo que sustenta todo o esforço sincero de purificação e toda a boa vontade de conversão”. No entanto, é sempre precisa a consciencialização da doença e a decisão pessoal de se curar, suportando, com paciência e perseverança, o tratamento.

Logo ao elencar a primeira doença, Francisco diz-nos que uma visitinha ao cemitério poder-nos-á ajudar no assumir da cura. De facto, os cemitérios estão cheios de gente que se julgava imortal, imune e insubstituível. E nós, não sei se pelos mesmos caminhos, cá vamos, triunfantes e vaidosos, até ver, mas sem precisar de quem se julgava indispensável e imune. O nome de muitos santos e santas por lá se leem, sem dúvida. Mas é possível que também haja nomes de quem passou por este mundo a viver e a pensar que tinha o rei e o reino na barriga! No entanto, fica-nos sempre a certeza de que Deus é rico em misericórdia!

Quando outros, que nos conheceram, mirarem os nossos nomes por lá, naquelas perfiladas tabuletas de cabeceira, que não lhes apeteça segredar para dentro de si mesmos: ‘que a terra lhe seja leve como leves eram os seus miolos’!

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 19-07-2024.

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