O mundo ainda não entendeu, é certo! Não quer entender! A cruz continua a ser loucura para uns e escândalo para outros. No entanto, inúmeros zelosos pelo aniquilamento de outros, continuam a levantar cruzes sem conta. Cristo continua a ser crucificado, todos os dias e da forma mais triste e revoltante, mais cruel e mais ignominiosa, na pessoa dos frágeis e inocentes, dos pobres e marginalizados, dos perseguidos e presos, dos torturados e mortos, de tantos famintos e sem abrigo, de quem sofre violência e desprezo, só porque sim. Há quem não queira entender e se julgue dono dos outros e disto tudo, sentindo-se no direito de usar da sua prepotência e da sua ambição, esmagando, destruindo, matando. Da cruz, porém, continua a brotar a mensagem mais revolucionária e transformadora de todos os tempos. A arma usada na ‘guerra’ provocada por essa feliz revolução é só uma. É a arma do amor, uma arma que não faz barulho nem destrói a partir de fora, mas revoluciona e transforma a partir de dentro, do coração. Uma arma sempre atual e atuante, à mão de todos os de boa vontade e sem preconceitos. 'Cristo enfrentou a morte na cruz como possibilidade de amar. Não foi a cruz que tornou grande Jesus. Foi a vida de Jesus que deu sentido à cruz, gastando-a a amar, a dar a vida, a fazer justiça, a reconhecer e a ir ao encontro do outro nas suas necessidades, vivendo na liberdade e no amor, na fidelidade a Deus e na solidariedade com os homens'.

“Verdadeiramente grande e preciosa realidade é a santa cruz! – afirmava Santo André de Creta, do século VIII. Grande, porque é a origem de bens inumeráveis, tanto mais excelentes quanto maior é o mérito que lhes advém dos milagres e dos sofrimentos de Cristo. Preciosa, porque a cruz é simultaneamente o patíbulo e o troféu de Deus: o patíbulo, porque nela sofreu a morte voluntariamente; o troféu, porque nela foi mortalmente ferido o demónio, e com ele foi vencida a morte. E deste modo, destruídas as portas do inferno, a cruz converteu-se em fonte de salvação para todo o mundo”.

Ao vivermos liturgicamente a Festa da Exaltação da Santa Cruz, torno presente os hinos da sua Liturgia das Horas:

 

O estandarte da cruz proclama ao mundo

A morte de Jesus e a sua glória,

Porque o Autor de todo o universo

Contemplamos suspenso no madeiro.

 

Ó Árvore fecunda e refulgente,

Ornada com a túnica real,

Sois tálamo, sois trono e sois altar

Para o Corpo chagado e glorioso.

 

Ó Cruz bendita, só tu nos abriste

Os braços de Jesus, o Redentor,

Balança do resgate que arrancaste

Nossas almas das mãos do inimigo.

 

Cruz do Senhor, és a única esperança

No tempo desta vida peregrina.

Aumenta nos cristãos a luz da fé,

Sê para os homens o sinal da paz.

++++

Cruz fiel e redentora,

Árvore nobre, gloriosa!

Nenhuma outra nos deu

Tal ramagem, flor e fruto,

Doces cravos, doce lenho,

Doce fruto sustentais

 

Porto feliz preparastes

Para o mundo naufragado

E pagastes por inteiro

O preço da redenção,

Pois o sangue do Cordeiro

Resgatou as nossas culpas.

 

Deus quis vencer o inimigo

Com as suas próprias armas.

A sabedoria aceitou

O tremendo desafio

E onde nascera a morte

Brotou a fonte da vida.

 

Elevemos jubilosos

À santíssima Trindade

O louvor que Lhe devemos

Pela nossa salvação,

Ao eterno Pai e ao Filho

E ao Espírito de amor.

+++

Insígnia triunfal, honrosa e santa,

Chave do céu, penhor de eterna glória,

Que com Jesus da terra nos levanta!

 

Sacrário em que ficou viva a memória

Do imenso amor divino onde se alcança

De inimigos domésticos vitória!

 

Sinal que após dilúvio traz bonança,

Por quem o mundo novo é reformado

E se converte o espanto em esperança!

 

Ó Cruz, minha saudade e meu cuidado,

Que sustentar pudeste o doce peso

Da nossa redenção tão desejado!

++++

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 13-09-2024.

 

Partilhar:
Comments are closed.