Não vou pedir aos leitores que digam três vezes e muito depressa “três tristes tigres”. Embora possam experimentar, só os quero convidar a mergulhar em três importantes acontecimentos que nestes dias estamos a viver:

1 – Uma boa notícia

O Dia Internacional da Família está a bater à porta! Bem-haja quem tudo faz para ajudar a família! Tudo quanto ela, com ela e por ela se possa fazer e se faça é sempre muito pouco. Muita coisa se tem feito, é verdade, mas ela merece muito mais. A família, constituída por um homem e uma mulher e aberta aos filhos, é um valor necessário para os esposos, para os filhos, para a sociedade, para a própria ecologia humana integral. Uma sociedade que se limite a cuidar os efeitos sem ligar patavina às causas do que acontece, jamais terá saúde, será meter a cabeça na areia, gastará imenso tempo a trabalhar para aquecer. A saúde da sociedade é uma consequência da saúde da família. Embora sempre com o tema da família na baila, coabitamos com forças e mentalidades adversas à família. Tanta coisa que soa a “conversa da pires”, a “conversa de chacha” ou da treta! É uma cultura hipócrita comparável à dos falsos amigos: pela frente e em público, bate-se nas costas, elogia-se, aplaude-se. Logo em seguida, na esquina da curva, não se demora em fazer o manguito ao que se disse para logo trair, secundarizar, ferir de morte, matar. Embora haja muito de bom e a enaltecer, há legislações anti família. Há política habitacional anti família. Há trabalhadores com ordenados anti família. Há empregos a distâncias anti família. Há ideologias ditatoriais anti família. Há vícios, grosserias, graçolas e comportamentos anti família. Há conteúdos na comunicação social anti família. Há testemunhos de gente de referência anti família. Há falta de educação e de valores familiares. Há a perda de identidade e a crise de valores no interior das próprias famílias. Há um contexto aparentemente cultural a minimizar e a corroer a família. Fomos criados por amor para amar e ser amados, mas tantas vezes o amor não é amado nem respeitado!

 

2 – Se há vida há futuro

Na semana que integra o Dia Internacional da Família, o 15 de maio, todas as pessoas de boa vontade, em Portugal, celebram a Semana da Vida. Infelizmente, a consciência pessoal e social em relação à vida humana tem-se vindo a relaxar, tanto no respeito pela vida própria e alheia como na sua necessária qualidade e proteção. Quando a liberdade é absolutizada com critério individualista, quando deixa de reconhecer e respeitar a sua ligação com a verdade, quando a razão humana se fecha às evidências primárias de uma verdade objetiva e comum, quando isso acontece a pessoa entra no campo da subjetividade, da opinião ou do interesse egoísta e a liberdade esvazia-se do seu conteúdo originário, da sua vocação e dignidade, renega-se a si própria, autodestrói-se (cf. EV19). A decisão de privar um ser humano de viver a sua vida é sempre má, nunca é lícita. A vida não é convencional, não é negociável, não se pode descartar. Não se torna lícito ou moral destruir uma vida humana só porque maiorias parlamentares, contra o seu dever, deixam de respeitar a dignidade de toda a pessoa, fundamento da sadia convivência humana. Tais atitudes não são sinal de progresso nem conquista de liberdade. Mesmo que o discurso possa “assumir formas persuasivas em nome até da solidariedade, a verdade é que estamos perante uma objetiva “conjura contra a vida” em que se acham também implicadas Instituições Internacionais”. Estas ameaças contra a vida incluem “ameaças programadas de maneira científica e sistemática” (id17).

São João Paulo II afirmava que “Nada e ninguém pode autorizar que se dê a morte a um ser humano inocente, seja ele feto ou embrião, criança ou adulto, velho, doente incurável ou agonizante. E também a ninguém é permitido requerer este gesto homicida para si ou para outrem confiado à sua responsabilidade, nem sequer consenti-lo explicita ou implicitamente. Não há autoridade alguma que o possa legitimamente impor ou permitir” (id57). Por mais graves e dramáticas que sejam as razões invocadas, nunca elas podem “justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente”, nem se pode querer esconder a verdadeira natureza de tal ato ou atenuar a sua gravidade na opinião pública.

 

3 – Arriscar com Ele e Por Ele  

Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, veio ao nosso encontro e continua a fazer-se encontrado. Sem ferir a nossa liberdade, sem se impor nem gritar, aponta-nos caminhos, fala-nos aos ouvidos do coração.  Escutar e discernir o que Ele nos vai insinuando, é rasgar horizontes, é calcorrear o caminho que nos leva a fazer opções e a ter a coragem de arriscar, com confiança. Assim acontece quando alguém escolhe construir a vida no matrimónio, constituindo família. Assim acontece quando alguém sente fascínio pela vida consagrada. Assim acontece na vida laical, profissional, social e política.  Assim aconteceu junto ao mar da Galileia, quando Jesus, à hora de arrumar os cestos daquela pesca sem sucesso, Se faz encontrado, desafia os pescadores, faz-lhes um convite e deixa-lhes uma promessa. Entendendo o alcance da proposta de Jesus, logo deixam as suas seguranças, o seu pequeno mundo, as suas rotinas. Com total disponibilidade, arriscam aceitar o desafio de navegar por outros mares adentro, confiando na promessa do Senhor. 

Esta semana, e sob a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Vocações, a Igreja une-se em oração pedindo ao Senhor que faça descobrir um verdadeiro projeto de amor para a vida de cada um, e que cada um tenha a coragem de arriscar com Ele e por Ele, sem medo, com confiança. Nesta semana, rezamos sobretudo pelas vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada, sabendo, no entanto, que o terreno mais propício para que elas surjam é a própria família, aquelas famílias que vivem verdadeiramente a sua vocação matrimonial com alegria e esperança, respeitando a vida e ajudando os filhos a descobrir, na escuta, na oração e no discernimento, a sua própria vocação segundo o projeto de Deus.

Ajudemos a promover a família, celebremos e agradeçamos a vida, rezemos por muitas e santas vocações à vida laical, ao ministério ordenado, à vida matrimonial e à vida consagrada.

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