Francisco publicou a habitual Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o qual vamos celebrar a 1 de junho. Num tempo ‘marcado pela desinformação’ e no qual ‘alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações’, o Papa convida os jornalistas, e afins, a serem comunicadores de esperança, consciente que está de quão importante e necessário é o seu ‘compromisso corajoso’ e a sua ‘responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo’.
Começa por referir que, atualmente, “com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública”.
E refere ainda outro fenómeno que ele considera preocupante e a cuja lógica não nos podemos render: “poderíamos designá-lo como a ‘dispersão programada da atenção’ através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade. Acontece portanto que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança”.
Baseando-se na Primeira Carta de São Pedro, Francisco relaciona a esperança com o testemunho e a comunicação cristã, sugerindo três importantes mensagens dessa passagem, onde se lê: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito» (cf. 3, 15-16).
Que mensagens, então, são essas? Antes de mais, a de saber que a esperança dos cristãos tem um rosto, 'o rosto do Senhor ressuscitado', cuja presença entre nós nos permite 'esperar contra toda a esperança', mesmo quando tudo parece desmoronar-se. A segunda mensagem é a de estar dispostos a dar razões da esperança 'a todo aquele que vo-la peça', fazendo ressoar a beleza do amor de Deus e levando os outros a perguntar: 'porque é que viveis assim? Porque é que sois assim?'. A terceira mensagem é que a resposta a este pedido deve ser dada 'com mansidão e respeito', 'com proximidade'. Jesus, o comunicador por excelência, também se fez próximo e companheiro dos discípulos de Emaús, fazendo-lhes 'arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras'.
Precisa-se de uma comunicação que fale ao coração, que suscite atitudes de abertura à amizade, que gere empatia e empenho, que aposte 'na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas’, que ‘não venda ilusões ou medos’, mas ajude a 'reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum’.
Neste ano jubilar, sendo importante encontrar e divulgar as sementes de esperança do mundo de hoje, Francisco convida os comunicadores a cuidar do seu coração e a falar ao coração de quem os lê ou escuta, semeando a esperança, curando as feridas da humanidade, sendo testemunhas e promotores de uma comunicação 'que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo… escrevendo juntos a história do nosso futuro'.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 31-01-2025.