Caros fiéis, o apelo e o convite do Senhor na palavra que acabamos de ouvir, não poderia ser mais claro neste iniciar da Quaresma e nesta circunstância em que entregamos à Diocese irmã da Guarda os símbolos do amor de Deus pela humanidade. Nesta hora, tristemente constatamos que, passados dois mil anos deste gesto do amor infinito de Deus para connosco, ainda somos instados a rezar e a trabalhar pela paz num mundo onde muitos, julgando-se donos e senhores dos outros, ainda não perceberam, não querem perceber, voltam as costas ao amor e à paz, fundamento do progresso e do bem estar social. Como sabemos, o abandono de Deus arrasta consigo o desprezo pelos outros.

O Senhor falou outrora ao povo judeu, mas este é o nosso hoje em que o Senhor também nos fala. E fala-nos como amigo, apontando-nos o caminho da verdadeira comunhão com Ele e com os outros. Diz-nos Ele: se retirares da tua vida toda o sentimento de opressão, todo o gesto ameaçador e todo o falar ofensivo; se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, então, a luz brilhará na tua própria escuridão, as tuas trevas tomar-se-ão como o meio-dia. Se assim procederes, o Senhor te guiará constantemente, estarás em comunhão com Ele, Ele dar-te-á vigor e saciará a tua alma no árido deserto da tua vida. Serás como um oásis, como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis, reconstruirás gente atribulada, construirás um mundo novo, um mundo diferente.

Mas para que isto possa melhor acontecer, também é preciso respeitar os direitos do próprio Deus. E se respeitar os direitos de Deus, no tempo do profeta Isaías também estava no respeito pelo sábado, hoje inclui o respeito pelo Domingo, o Dia do Senhor. E a exortação é forte: se te abstiveres de trabalhar ao Domingo, de te ocupares dos teus negócios no dia santo, se chamares ao Domingo a tua delícia, consagrando-o à glória do Senhor; se o solenizares, abstendo-te de procurar apenas os teus interesses, então, encontrarás a tua felicidade no Senhor. Por outras palavras: Deus pede-nos, em primeiro lugar, que afastemos tudo quanto seja causa de divisão, como sejam a opressão, as falsas acusações, a difamação, as calúnias, a violência, a prepotência e quejandos, e que sejamos capazes de reconstruir a justiça social em ambiente de solidariedade e de partilha, como irmãos com iguais direitos e deveres. Esse foi o testemunho que Jesus nos deu, partilhando a nossa vida e a nossa condição, assumindo as nossas limitações e o nosso pecado, passando pelo mundo fazendo o bem a todos e acolhendo a todos. A quem assim proceder, Deus promete a comunhão consigo e a prosperidade. Em segundo lugar, o Senhor pede-nos que não percamos ou que retomemos o sentido do Domingo, como seu Dia, com a consequente promessa de saborearmos a alegria do Senhor e dos seus bens (cf. Is 58, 9b-14).

E não esqueçamos: o Senhor anda por aí a tocar no ombro de tantas famílias e de tantas pessoas, crianças, jovens e adultos. Procura falar-lhes ao ouvido do coração como fez com Levi, esse homem desprezível por ser um explorador profissional e um colaboracionista da ocupação romana de quem nada havia a esperar. É possível que haja quem não compreenda e murmure como não compreenderam e murmuraram os fariseus quando Levi, atento à palavra e ao convite de Jesus, se sentiu tocado no seu coração, se aproximou de Jesus e o convidou para um banquete em sua casa. Levi sentiu-se livre de todas as suas amarras, levantou-se da sua vida sem sentido e seguiu Jesus. Fazendo-se discípulo, quis fazer da sua vida um acontecimento de graça, organiza um banquete com os seus amigos e com Jesus como que a sinalizar a sua viragem de rumo, mesmo perante as desconfianças e as críticas dos seus amigos que se julgavam bons e justos e de quem nenhuma mudança se podia esperar. Tão como aí, também hoje pode haver quem se julgue muito justo e bom e não queira acreditar na conversão dos outros, até os julgue indignos disso. É uma espécie de resistência a nos considerarmos pecadores tal como Levi se reconheceu pecador, o que por si só poderá ser já um sinal de orgulho e de egoísmo da nossa parte. No entanto, só poderemos experimentar a felicidade da Misericórdia que cura e perdoa se nos sentirmos pecadores, solidários com os outros pecadores e dispostos a carregar os seus pesos, tal como Jesus se fez solidário connosco e se dispôs a carregar sobre Si o nosso pecado (cf. Lc 5, 27-32).

Caros jovens, antes de mais e como ontem vos escrevia, muito obrigado por terdes levado, carinhosamente ao colo por toda a nossa Diocese, com entusiasmo contagiante e espírito missionário, os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude. Foi bom e muito bonito, como bonito e muito bom foi apreciar como tantas autoridades civis, académicas e militares, comunidades cristãs, estruturas sociais, de saúde e de serviços, e tantas outras instituições escancararam as portas para vos acolherem com a mensagem mais revolucionária, mais subversiva do mundo! E tudo vai acontecendo sem qualquer outra arma que não seja a arma do amor e do bem fazer, em paz e concórdia! Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos! Mas Ele, na Cruz, até a deu pelos seus próprios inimigos, desculpando-os e pedindo perdão para eles. E tantas vezes ignoramos isto ou tendemos a esquecê-lo porque nem sequer somos capazes de cumprir o adágio que diz que amor com amor se paga!…

Em nome da Igreja Diocesana, reitero a maior gratidão a todos quantos, reconhecendo o alcance de tal peregrinação pelo que ela significa, representa e anuncia, manifestaram a sua simpática abertura, adesão e colaboração. Bem como agradeço aos senhores Padres e Diáconos, à Vida Consagrada, Catequistas e Escuteiros, ao Comité Diocesano de preparação para a Jornada Mundial em Lisboa, ao Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e das Vocações e a todos quantos, quais formiguinhas atentas e laboriosas, duma maneira ou de outra, tiraram pedras do caminho e colaboraram mais de perto com igual entusiasmo e alegria. Bem hajam! Que a Mãe de Jesus e nossa Mãe, vos guarde e proteja sob o seu manto materno!

E agora que nos vamos ‘despedir’ desses símbolos que desde 30 de janeiro levastes a cantos e recantos, largos e praças da nossa Diocese, a bater, com carinho, à porta do coração de cada pessoa para lhe anunciar o amor de Deus por cada um e por toda a humanidade, venho recordar a todos, mas de uma forma muito especial aos jovens, aquilo que já todos sabem. Não sendo saudável esquecer, é mesmo bom intensificar a sua vivência e reavivar continuamente o desejo de o divulgar oportuna e inoportunamente. São três coisas muito importantes, importantíssimas mesmo! Foi o Papa Francisco que as gravou a letras de ouro no documento conclusivo do sínodo dos jovens. Aí, ele reiterou-vos três grandes verdades que eu chamo agora à baila para trazerdes escritas na palma da vossa mão, vós, jovens, e toda a gente.

Diz ele: “Eis a primeira verdade que quero dizer a cada um: «Deus ama-te». Mesmo que já o tenhas ouvido – não importa! –, quero recordar-to: Deus ama-te”.

“A segunda verdade é que, por amor, Cristo entregou-Se até ao fim para te salvar. Os seus braços abertos na cruz são o sinal mais precioso dum amigo capaz de levar até ao extremo o seu amor”.

“Mas há uma terceira verdade, que é inseparável da anterior: Ele vive! (…) Aquele que nos enche com a sua graça, Aquele que nos liberta, Aquele que nos transforma, Aquele que nos cura e consola é Alguém que vive. É Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz infinita”.

Nestas três verdades, refere Francisco, “aparece Deus Pai e aparece Jesus. Mas, onde estão o Pai e Jesus Cristo, também está o Espírito Santo. É Ele que prepara e abre os corações para receberem este anúncio, é Ele que mantém viva esta experiência de salvação, é Ele que te ajudará a crescer nesta alegria se O deixares agir. O Espírito Santo enche o coração de Cristo ressuscitado e de lá, como duma fonte, derrama-Se na tua vida. E quando O recebes, o Espírito Santo faz-te entrar cada vez mais no coração de Cristo, para que te enchas sempre mais com o seu amor, a sua luz e a sua força”.

Por isso, o Santo Padre pede-te que invoques todos os dias o Espírito Santo “para que renove em ti constantemente a experiência do grande anúncio. Porque não? Tu não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo melhor. Não te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira aquilo que precisas. Precisas de amor? Não o encontrarás na devassidão, usando os outros, possuindo ou dominando os outros; n’Ele, o encontrarás duma forma que te fará verdadeiramente feliz. Buscas intensidade? Não a viverás acumulando objetos, gastando dinheiro, correndo desesperadamente atrás das coisas deste mundo; chegará duma maneira muito mais bela e satisfatória, se te deixares guiar pelo Espírito Santo” (cf. Ex. CV, Capo. IV).

Como notarás, o entusiasmo pela Jornada Mundial da Juventude em Lisboa já saltita pelas ruas e há muita pressa no ar. Essa pressa em preparar precisa não só de ti, também precisa do apoio e colaboração da tua família e da tua comunidade cristã!

Continua unido ao Comité Diocesano e ao Secretariado Diocesano da Juventude e Vocações. Juntos e comprometidos no caminho, avançaremos melhor e com mais proveito.

Anima-te e anima os teus colegas e amigos.

Antonino Dias

05/03/2022 – Sábado depois das cinzas

 

(Estiveram os Bispos da Guarda, D. Manuel Felício, D. Américo Aguiar, Auxiliar de Lisboa responsável pela orgabização da JMJ, vários sacerdotes e diáconos, Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco entre muitos outros)

 

 

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